2) Concerto Colonne

Concerto Colonne
André Devambez
s.d.




































O quadro em questão mostra a platéia de uma sala de concerto. A sala é luxuosa, repleta de enfeites e adornamentos que culminam no imponente lustre da porção superior direita. O amarelo-ouro da estrutura principal se intercala com tons esverdeados e se equilibra com o vermelho intenso espalhado pelo quadro. As notas brancas fazem a transição cromática para a platéia, imersa em tons escuros e de baixo contraste. Mas no interior da própria platéia reaparecem discretamente todos os tons do salão, harmonizando a composição. Não há conflito entre os tons vibrantes e os tons escuros, do mesmo modo que não há conflito entre a multidão comum dos boulevares parisienses e o espaço burguês em que se encontram. 

As linhas curvas da platéia sugerem a disposição circular da sala de concerto. Suas diversas camadas são estabilizadas pelos arcos e pilares. A platéia está emoldurada por um sistema rígido de organização, disposta entre as camadas e sob os arcos. Assim como sua coloração se harmoniza com a do ambiente, o mesmo ocorre com sua disposição espacial. Cada pessoa é igual no interior da platéia, nenhuma se destaca das outras. A multidão está distante do observador, de modo que cada pessoa se confunde com a massa. O mesmo ocorre com a porção em primeiro plano: apesar de estarem mais próximas, estão todas de costas e ainda menos iluminadas. Ainda assim, a multidão amorfa não desafia as regras formais de organização do espaço.

Toda a platéia está absolutamente atenta, voltada para uma mesma direção. Sabemos pelo contexto que se trata de algum espetáculo e pelo nome do quadro imaginamos que seja um espetáculo musical. Mas não sabemos exatamente em que ele consiste, e, mais ainda, sequer o vemos. O artista enquadra a platéia e ressalta o espaço, mas desloca o espetáculo em função do qual se encontram. Para fazê-lo, põe parte da platéia em primeiro plano, embaixo de um arco que emoldura parte da porção esquerda e parte da porção superior. Se coloca, desse modo, na posição de um dos espectadores. Mais deslumbrado, porém, com a relação entre a multidão e o espaço do que com o próprio espetáculo. 

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